Para felicidade de quem perdeu um ótimo show há alguns meses, o duo Refluxo volta para tocar em Mogi, sábado agora, dia 8, na Divina Comédia. Quem tocará na mesma noite será o Cor-Séría.
Da outra vez, o Phael e eu, ambos do Cor-Séría, assistimos o show do Refluxo e gostamos muito. Guitarras agressivas do rock noventista mesclado com elementos eletrônicos, resultando num rock potente, com as variações de vocais masculino e feminino.
Como voltam para a Terra do Caqui, fiz uma rápida entrevista com eles. Quem respondeu as perguntas foi o Marcelo Mandaji, parceiro de banda de Luci Hidaka.
Confiram.
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• A experiência de ambos é bem ampla, envolvendo música eletrônica, rock, discotecagem, design... desses elementos, o que se encontra na fórmula do Refluxo?
Tudo. O Refluxo surgiu porque transformar essa atmosfera em música era inevitável. A idéia de tocarmos juntos existe há 4 anos. Todo esse tempo estávamos cada um com seus projetos e paralelamente estávamos planejando como seria o formato deste, e também batalhando para conseguirmos comprar todos os equipamentos que precisaríamos para tocar.
• O som do Refluxo é um som potente e muito bem preenchido. Como atingir isso apenas com dois integrantes? Com isso, ocorre alguma limitação?
A limitação é algo positivo, isso torna as composições um pouco mais simples de serem resolvidas, quando trabalhamos com diversos integrantes e instrumentos, as composições parecem andar em círculos e quando não bem resolvidas, acabam atrapalhando o bom andamento do todo. Nós usamos uma guitarra, um baixo e uma bateria eletrônica de samples criados para serem soltos pela pedaleira midi. Isso já dá bastante barulho. =)
• No show que vocês fizeram em Mogi há alguns meses, identificamos elementos de bandas garageiras, como o Sonic Youth, e bandas com toques eletrônicos, mas ainda assim rock, como o extinto Portal Service. Acertamos nisso?
Amadureci meu ouvido nos anos noventa, impossível vivendo nessa época, não ter ouvido muito Sonic Youth, Nirvana, entre outros. Postal Service é uma banda bacana, adoramos, mas acho que nunca pensamos em fazer algo perto do que eles fazem. Eu quero mais é fazer barulho com minha guitarra e nessa hora que aparecem essas raízes dos anos noventa.
• Me chamou muita atenção os pedais e efeitos que vocês usam. Poderiam descrever o que são e para que servem?
Na verdade tentamos usar o mínimo possível de coisas. Eu uso um drive chamado OCD e um pouco de reverb do amplificador. E a Luci usa um SansAmp, no baixo. De resto tem um pedal midi para soltar os loops de bateria.
• Vocês formam um casal, que, além da banda, possuem outros projetos juntos. Assim, para vocês, qual é o objetivo da banda. Onde querem chegar ou o que querem transmitir?
Queremos continuar compondo, tocando, viajando, conhecendo pessoas e voltar a compor sobre as viagens, as pessoas e os lugares que conhecemos. Não existe um objetivo específico, nós estamos vivendo... A criação com design e publicidade nos sustenta financeiramente e todo o restante da nossa vida é de música, video-game, literatura, artes em geral. Parece piegas, mas é a realidade...rs...
• O que vocês acham da cena independente atual? Em Mogi sempre se discute muito sobre a cena indie, os pontos fortes e fracos, sobre de quem é a responsabilidade da cena: bandas, produtores, lugares, público, de todo mundo.
A responsabilidade é das bandas. Se elas não forem atrás do que precisam para fazer um bom show, ninguém vai fazer por elas.
Compor e tocar está implicito em "se ter uma banda". Agora, se "você" quer fazer show, então vai precisar fazer mais que isso.
A gente acredita que o começo de um trabalho bem feito como banda independente e para o universo independente, como o próprio nome já diz, é se assumir como independente de verdade, a começar por ter seu próprio instrumento de trabalho, que consiste em: levar seu próprio amplificador para o show, levar sua bateria, seu microfone, seus cabos. Aqui no Brasil é muito dificil conseguir todo o palco/backline, porque é tudo muito caro, mas se "tocar" é importante para "você", se é sua vida, então, "você" vai ter de dar um jeito de se dedicar a isso.
Outra coisa é fazer o papel de produção. Telefonar para as casas, mostrar seu som e convencer os donos de que vai ser legal você tocar lá. Criar projetos e espaços também é algo muito possível e importante, para poder movimentar a cena independente. Fazer seus próprios cartazes, colá-los, distribuí-los e fazer a correria de divulgação para a coisa toda acontecer. Depois, é viajar para outras cidades, tocar e fazer intercâmbio com outras bandas. É fato de que é muito mais fácil agendar um show na sua própria cidade, então, é importante que as bandas se ajudem, dessa forma estarão movimentando a "cena".
Lugar para tocar tem, o Refluxo é uma banda nova, fizemos o primeiro show em Março deste ano e já foram 18 shows agendados por conta própria. Hoje em dia ainda tem produtoras com propostas muito bacanas para ajudarem as bandas, como é o caso da Tronco Produções, que acabamos de firmar um contrato para nos dar uma força a partir de Setembro e que está fazendo um belíssimo trabalho para a cena, com projetos como "Desbravando o Interior", SP Noise Festival, Session - American Apparel, Sementes do Som e Le Pastie de la Bourgeoisie.
Tudo está a nosso favor, tá tudo na internet, estamos todos próximos, conectados, temos acesso a tudo e qualquer informação que precisamos. Não tem desculpa, a responsabilidade é nossa.
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Por Zelenski,
ao som de Air
3 comentários:
taí, o marcelo arrebentou em seu discurso sobre a cena e circulação... quando as bandas entenderem que todo o trampo inicial depende delas, o restante será consequência do que foi empreendido... simples assim...
parabéns marcelo, pelo seu ponto de vista inteligente e extremamente coerente e pelo som que faz no refluxo que é simplesmente fodão!
dia 8 divinar com refluxo e cor-séría, q delícia...
Tamo lá pra conferir!!!!
Concordo com o Régis, belo discurso do Marcelo!!!
ROCK!!
Concordo com o Marcelo em partes.
Realmente, não há mais desculpa hoje em dia de não ter apoio da indústria musical para tocar: é a velha história do faça vc mesmo, e a internet nasceu pra isso!
O lance de agitar shows em outras cidades, com outras bandas, também é muito bacana, e dá uma força enorme para o rock, deixado tão de lado nesse país.
A única coisa que estraga todo esses empenho, é quando os interesses pessoais e a vontade de fazer sucesso (que muitos desejam, mais do que imaginamos!) superam o mais importante de tudo isso: a arte.
Falo isso porque todos vemos como alguns produtores dizem promover festivais independentes, na verdade tem o intuito de promover certas bandas que figuram em todos os festivais do Brasil, e muitas vezes tem uma qualidade musical pífia.
Mas a verdadeira arte nunca poderá ser comprada, então não nos preocupemos com esses detalhes! rsrs
abs!
Cris
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